| (...) A alma por meio da qual sou o que sou, distingue-se completamente do corpo e é ainda mais fácil de conhecer do que esse último; e, ainda que não houvesse corpo, a alma não deixaria de ser o que é. (Descartes) |
Foi por volta de 70.000 anos atrás que alguma coisa aconteceu. Descendentes de primatas dominaram o fogo e logo passaram a cozinhar alimentos.
Quando conseguiram dominar o fogo, o cérebro deles já havia preparado infraestrutura capaz de criar linguagens, embora ainda as tivesse produzido nenhuma. Assim como outros animais, possuíam uma consciência primária, já pensavam associando imagens e o nervo hipoglosso já os capacitavam para a fala.
Quando conseguiram dominar o fogo, o cérebro deles já havia preparado infraestrutura capaz de criar linguagens, embora ainda as tivesse produzido nenhuma. Assim como outros animais, possuíam uma consciência primária, já pensavam associando imagens e o nervo hipoglosso já os capacitavam para a fala.
| “Steven Mithen propôs o termo Hmmmmm para o sistema pré-linguístico de comunicação usado pelo Homo arcaico, começando com o Homo ergaster e atingindo maior sofisticação no médio Plestoceno com o Homo heidelbergensis e Homo neanderthalensis. Hmmmmm é um acrônimo para holístico (não-composicional),manipulativo (declarações são comandos ou sugestões, não afirmações descritivas),multi - m odal (acústico, bem como gestual e mimético), musical]], e m imético”[1] |
A dieta cozida deu-lhes alimentos mais nutritivos, e o cérebro humano deu um salto na evolução, aumentando seu tamanho para os atuais 86 bilhões de neurônios (16 bilhões só no Córtex)[2]. Isso não nos deu um cérebro especial, mas sim um cérebro que apesar de constituir 2% do corpo humano, consome 25% de toda a energia, sendo 3 vezes maior que o de um Gorila.
Para um Gorila ter um cérebro do tamanho do nosso, com a dieta crua a que estão habituados, precisariam ingerir comida durante 9 horas por dia, inviável!
Simon Baron-Cohen (1995)[3] argumenta, com base em evidências, que por volta de 40.000, a teoria da mente[4] deve ter precedido o uso da linguagem, essa infraestrutura fez com eles fosse capazes de realizar uma comunicação intencional, reparo na comunicação falha, ensino, persuasão intencional, engano intencional, construção de planos e metas, compartilhamento intencional de foco ou tema, e - para mim o mais surpreendente – fingimento.
Essa inovação cultural do cozimento, associada a uma infraestrutura preexistente, nos libertou para criarmos a linguagem, os números, a civilização, as máquinas, e nos perguntarmos: de onde viemos, quem somos, para onde vamos?
Quando atingimos a era moderna da nossa História, um francês, René Descartes, provocou uma separação que impregnaria toda a progressão científica sobre o cérebro: a separação entre mente e corpo. Os cientistas abraçariam a objetividade que envolve o estudo do cérebro-corpo e desconfiariam da subjetividade da mente-consciência.
Para Antonio Rosa Damásio, professor de Neurociência na University of Southern California, isso rendeu um livro, “O erro de Descartes”[5]:
| Pode bem ter sido a ideia cartesiana de uma mente separada do corpo que esteve na origem, na metade do século XX, da metáfora da mente como programa de software. De fato, se a mente pudesse ser separada do corpo, talvez fosse possível compreendê-la sem recorrer à neurobiologia (...). É interessante e paradoxal que muitos investigadores em ciência cognitiva, que se julgam capazes de investigar a mente sem nenhum recurso à neurobiologia, não se considerem dualistas. A separação cartesiana pode estar também subjacente ao modo de pensar de neurocientistas que insistem em que a mente pode ser perfeitamente explicada em termos de fenômenos cerebrais, deixando de lado o resto do organismo e o meio ambiente físico e social — e, por conseguinte, excluindo o fato de parte do próprio meio ambiente ser também um produto das ações anteriores do organismo. (...) É um fato incontestável que o pensamento provém do cérebro, mas prefiro qualificar essa afirmação e considerar as razões por que os neurônios conseguem pensar tão bem. Essa é, de fato, a questão principal. (...) A divisão cartesiana domina tanto a investigação como a prática médica. (...) É curioso pensar que Descartes contribuiu para a alteração do rumo da medicina, ajudando-a a abandonar a abordagem orgânica da mente-no-corpo que predominou desde Hipócrates até o Renascimento. Se o tivesse conhecido, (talvez, grifo meu) Aristóteles teria ficado irritado com Descartes. Versões do erro de Descartes obscurecem as raízes da mente humana em um organismo biologicamente complexo. E, quando os seres humanos não conseguem ver a tragédia inerente à existência consciente, sentem-se menos impelidos a fazer algo para minimizá-la e podem mostrar menos respeito pelo valor da vida. No entanto, a mente verdadeiramente incorporada que concebo não renuncia aos seus níveis mais refinados de funcionamento, aqueles que constituem sua alma e seu espírito. Do meu ponto de vista, o que se passa é que a alma e o espírito, em toda a sua dignidade e dimensão humana, são os estados complexos e únicos de um organismo. |
Sendo assim, Antonio Damasio, inclui, na lista dos dualistas, os que acreditam que a mente é um software que roda no cérebro.
Filósofos modernos não validam mais a argumentação dualista que põe em dúvida a existência do corpo e do cérebro. Antes, preferiam uma visão “monista” em que apenas um tipo de substância existe (como George Berkeley), que é a mental. Hoje, outra forma monista é mais popular: o materialismo (segundo a teoria da Identidade). Mas como coisas materiais podem ter consciência?
Existem também os filósofos que distinguem os fenômenos mentais bioquímicos ou elétricos, dos funcionais, ou seja, o que faz algo ser considerando uma experiência mental não é sua composição bioquímica, mas o papel que desempenha na nossa vida.
Porém, teoria da Identidade e Funcionalismo, separados, não explicam bem o funcionamento da mente, parece que se complementam.
Porque alguns consideram a mente à parte do corpo, como uma alma? Porque isso, entre outras coisas, responde aos nossos anseios por uma vida com significado e que continua após a morte. De outra forma, alguns poderiam alegar que o universo é complexo demais para ser um simples acaso, que existe um design inteligente por trás disso, o que implica uma intencionalidade, uma consciência superior, etc.
Acho que as duas coisas acima são verdadeiras, e vou além nesse assunto. Já expus meu pensamento no capítulo “Incertezas, Escolhas e Coragem”: se Deus ou o Ser consciente (como queira chamar) não existe e esse mundo é um acaso, então não há um sentido, e não há necessidade de explicar o porquê do Universo, sendo assim, essa questão já está resolvida. Ponto final. Simples assim. Portanto, a única escolha com perspectiva é a de um universo cheio de significados, o que pode implicar uma mente, uma consciência, separada do corpo.
O que distingue dualistas, como eu, de monistas como Bento Spinoza, que acreditava que tudo era Deus? Para mim, essa separação se dá por uma linha tênue.
Resumindo temos:
- Dualistas: separam mente e corpo;
- Monista idealista: existe apenas uma substância, a mental;
- Monista neutro de Spinoza: tudo é Deus;
- Monista Material: só existe o bioquímico e elétrico,
- Monista Funcionalista: experiência mental é uma função, um papel exercido.
E onde entra a coragem nisso? A comunidade científica torce o nariz quando alguém começa a falar sobre consciência (eles já sabem aonde essa conversa vai chegar, na maioria das vezes, sentem cheiro de dualismo à distância). É subjetivo demais! O cérebro tem peso, cor, podemos até medir o consumo energético nele, podemos comparar com o de outros animais, mas a consciência... “tisc”! É preciso coragem para abraçar esse tema, e depois disso você perceberá que existem raríssimos trabalhos de investigação sobre a consciência.
Achamos que somos especialistas em consciência, porque somos autênticos proprietários de uma. Estamos de acordo que é um tema fascinante, complexo e que dá significado à nossa existência. Agora experimente ir até o site de pesquisa do Google, procure por trabalhos científicos sobre a consciência, e conte nos dedos quantos você conseguirá encontrar.
Daniel Dennet contou uma historinha certa vez:
| Vou lhes falar sobre um problema que tenho... Sou um filósofo. Quando vou a uma festa e as pessoas me perguntam o que faço e digo “sou professor”, me olham entediados. Quando vou a um coquetel de acadêmicos e digo que dou aula de filosofia, me olham entediados. Quando vou a uma festa de filósofos, e digo que trabalho com consciência, não ficam entediados, fazem careta. Sou ridicularizado e dão risada de mim, pensam: “você não pode explicar a consciência”.[6] |
Note que Dennett tem argumentos sobre a consciência que são considerados por autoridades no assunto, como Antonio Damásio[7] e outros.
John Searle[8] é outro filósofo conhecido a pregar que a consciência precisa ser aceita como fenômeno biológico pela ciência, que a consciência deve assumir seu merecido lugar de destaque.
Pessoas corajosas estão investigando a consciência, alguns tentam desvendar o software, outros o hardware. Pessoas como Daniel Dennett, Fodor, Searle, Bernard Baars, Suzana Herculano-Houzel, Stuart Hameroff e Roger Penrose. Citando apenas aqueles com as ideias que achei mais interessante, dentre os pesquisados para esse trabalho sobre consciência.
Interessante como Dennett constrói sua teoria da evolução da consciência com base no efeito Baldwin[10].
| O Efeito Baldwin, portanto, é uma forma pela qual decisões feitas por características únicas de um indivíduo podem influenciar subsequentemente no processo de seleção natural do grupo. Isto porque os indivíduos com capacidade de imitar cada vez mais esses companheiros que descobriram habilidades novas serão privilegiados sobre os demais. É provável que estes indivíduos que conseguiram imitar a nova habilidade serão aqueles com disposições genéticas similares ao indivíduo que descobriu a novidade. Como estes provavelmente serão selecionados sobre os demais, o DNA da espécie cada vez mais se aproxima àquele necessário para realizar a habilidade, e com o tempo pode até vir a ser incorporado na forma de um instinto. Entretanto, para Baldwin (1896), a plasticidade é mais importante, pois quanto mais movimentos pré-instalados um animal trouxer para o mundo, menos ele será capaz de aprender posteriormente. Em suma, o naturalista acredita que espécies com a plasticidade necessária para aprender e imitar novas formas de agir durante a vida serão privilegiadas com uma aceleração no processo de seleção natural. |
Ou seja, consciência não surgiu simplesmente de uma sorte genética, de uma alteração no gene FOXP2[11]. Essa alteração foi apenas a centelha que riscou o céu da nossa existência. Essa fagulha incendiou um processo cognitivo, possibilitando um compartilhamento cultural que se tornou o motor principal na evolução da consciência: o bipedismo provocou alterações no esqueleto que alteram o crânio, que sofreu alterações no FOXP2, que possibilitou uma consciência primária, que domou o fogo, que criou uma dieta de alimentos cozidos, que fez aumentar o cérebro, que criou cultura, que criou linguagem, que deu significado ao mundo e nos faz perceber que somos pessoas diferentes a cada novo dia. Claro que não é tão simples assim.
| De acordo com Dennett, o propósito fundamental do cérebro é produzir o futuro. Para sobreviver, um organismo possui duas escolhas: se defender e torcer para que ocorra tudo bem, como uma árvore, ou criar um sistema nervoso para guiá-lo pelo mundo. Escolhendo o segundo caminho, ele precisa sempre resolver o seguinte problema: “e agora? O que fazer?”. A chave para o controle é a habilidade de rastrear ou até mesmo antecipar características do ambiente. Assim, todos os cérebros são, em essência, máquinas de antecipação. (...) Graças aos olhos e a busca constante por informação, o cérebro primata foi bombardeado com informação multimodal, criando assim a necessidade de um controle dos processos de alto-nível. Até o momento podemos supor que a resolução do problema “e agora? O que fazer?” foi realizada pela decisão entre quatro possibilidades: lutar, fugir, comer ou transar, ou alguma elaboração simples dessas quatro soluções. Mas com a enorme quantidade de informação que aos poucos os sistemas começaram a coletar, surgiu um novo problema, “e agora sobre o que vou pensar?”, ou seja, foi necessário algum processo para organizar a quantidade enorme de voluntários (papel da consciência). Os mecanismos pré-instalados da linguagem são um incremento recente da evolução. (...) esta foi acelerada pelo Efeito Baldwin. (...) assim todo o avanço extraordinário dos seres humanos foi provavelmente realizado pela aprendizagem, por algum tipo de incorporação de softwares para aumentar seu potencial.[12] |
Dennet (1991)[13] argumenta que a seleção natural é um processo biológico, mas que qualquer elemento replicador, não só os genes, possuindo 3 características específicas (Variação, Hereditariedade e Aptidão Diferencial), podem agregar força evolutiva suficiente para superar o potencial dos genes. Ele chama de Memes, esses novos replicadores, que na verdade, são as unidades de ideias.
Imagine como a imprensa mudou a vida dos seres humanos desde Gutemberg, como o rádio e a televisão elevou isso de forma exponencial. Transformação nas ideias levou a uma revolução em nossas vidas, e ganhamos uma enxurrada de artigos que nos alertam sobre como a vida moderna está nos deixando fisicamente mais fracos, mais estressados, estamos vivendo mais, estamos mais ansiosos, estamos mudando, porém mais inteligentes a cada dia. E agora os smartphones estão criando uma nova raça, o homo erectus do pescoço curvado. Assim, as ideias tiveram uma força transformadora maior que as mutações genéticas que sofremos desde o homo sapiens.
Então, Dennett vê 3 caminhos por onde a evolução da consciência passou: Evolução genética, plástica (pelo efeito Baldwin) e Memética.
E Dennet sustenta que a consciência é um software, porque, na história da evolução, ela é muito recente para ser pré-instalada; por ser produto da evolução cultural; e pelo sucesso em sua instalação ser determinado por microconfigurações do cérebro, significando que suas características funcionalmente importantes são praticamente invisíveis para a neuroanatomia.
Ser invisível para a neuroanatomia tem sido de fato um problema...
Indubitavelmente, Dennet é uma autoridade em consciência. Contudo, e também, ele ainda não conseguiu desatar o nó que faz compreender como cérebro e mente se ligam. Uma coisa todos concordam: não é pela glândula pineal.
| Sabemos o que as partes fazem, mas não sabemos como se dá a conversa entre elas. Não sabemos a origem da consciência, da sensação do “eu estou aqui agora”. Que áreas são fundamentais para isso? É esse tipo de conhecimento que se está buscando, do cérebro funcionando ao vivo e em cores, em tempo real.[1] |
A investigação desse software deve ficar à cargo da psicologia, segundo Antonio Damásio (veja o capítulo “Intencionalidade, Não-localidade e Subjetividade parte II”). Segue na mesma linha John Searle, segundo ele, o estudo de 1 neurônio é neurologia, o estudo de 2 neurônios é psicologia, brinca.
Dennet acredita que consciência tem relação com a voz interior, o falar consigo mesmo. E quando utilizamos essa voz interna, ela vem estruturada com sintaxe e semântica. Quanto mais vocabulário, mais sofisticado será esse monólogo de um único espectador.
Aproveitando o ensejo, a semântica tem sido um grande problema para se produzir um computador consciente, para se produzir inteligência artificial. Os maiores avanços nessa área estão na programação para a Web, a Websemântica[15]. Assim como Dennet e Searle, também acredito que criar inteligência artificial é possível, conforme afirmei no capítulo “Intencionalidade, Não-localidade e Subjetividade parte I”, particularmente, acredito que seja possível criar tanto o hardware quanto o software para uma inteligência artificial. Porém, mesmo que isso seja possível, cairemos noutra questão bem conhecida na Filosofia, que é a Sala Chinesa, sobre a qual já falei; ainda assim, ser possível não quer dizer que construiremos, pois é um trabalho complexo demais. Ainda sobre ser possível criar um cérebro consciente, ora, nós somos a prova de que é possível.
Claro que, se para Dennet, consciência está relacionado ao falar consigo mesmo e a memes, logo, só pode ser uma coisa humana. Animais possuem mente, mas não consciência secundária.
| Utilizando o animal humano como base, comparam as estruturas anatômicas, a fisiologia, a cognição e o comportamento destes com de outros animais. Dada a limitação e a dificuldade de atribuir consciência a outros animais, Edelman (1989) e Edelman et al. (2011) propõem uma diferenciação cuidadosa entre consciência primária e secundária. A primária refere-se à presença de uma cena multimodal composta de eventos perceptivos e motores com uma perspectiva em primeira pessoa sobre o mundo. Já a secundária, refere-se à utilização da capacidade de pensamentos de alta-ordem para deixar os conteúdos da consciência primária passarem por uma semântica interpretativa, incluindo um sentido de self e a construção de cenas do passado e do futuro. Assim como é para Dennett, a consciência secundária está ligada a capacidades linguísticas.[16] |
Esses pesquisadores não sabem ainda até que ponto alguns animais possuem linguagem suficiente para torná-los conscientes, se alguns deles é capaz de passar do limite primário para o secundário.
| Edelman e Seth (2009) consideram as pesquisas de Pepperberg (2000) como possíveis indicadores de certo grau de consciência secundária em aves. As aves de Pepperberg conseguem nomear objetos em tarefas de categorização e fazem discriminações sofisticadas. Por exemplo, Pepperberg (2000) apresentava uma chave amarela grande e uma chave prata menor e perguntava “qual é maior?”, o papagaio respondia “a amarela”. Pepperberg (2000) afirma que os papagaios acertam esse tipo de pergunta com estímulos e perguntas novas, e não apenas tarefas reforçadas pelo método behaviorista. Edelman e Seth (2009) consideram que esses papagaios conseguem fazer um julgamento sobre eventos da consciência primária, identificando, por exemplo, exatamente o que mudou em certa cena perceptiva.[17] |
Resumindo, segundo esses autores, existe 3 tipos de mentes:
1 – Popperianas, como a de pombos e ratos, capazes de realizar algumas escolhas aleatórias, algumas hipóteses de como agir pré-instaladas, podendo receber estímulos/reforço e adaptar-se;
2 – Como a de chimpanzés e hominídeos. Além de criar hipóteses, que são testadas e reforçadas, conseguem comunicar suas novidades e criar ferramentas,
3 – Humanos, que, através da linguagem e do uso de memes conseguiram ir além, organizando-se por uma propriedade instalada culturalmente, avaliando fatos passados que estão armazenados na memória, para resolver problemas e antecipar o futuro, ampliaram o vocabulário e por consequência o entendimento sobre o mundo que o cerca, isso é a consciência em nível secundário.
A seguir trabalharei com 4 conceitos sobre consciência tratados por cientistas citados nesse capítulos: O Espaço de Trabalho Global, de Baars; Esboços Múltiplos e Máquina Joyceana, de Dennett; ORCH-OR, de Stuart Hammeroff e Roger Penrose.
Para mim esses 4 conceitos, se completam.
Baars formula uma teoria do Espaço de Trabalho Global em que o cérebro possui diversos subsistemas, como audição, visão, e outros tipos de “input” que parecem trabalhar em paralelo, e muitos de forma inconsciente. Já a consciência trabalha de forma serial, colocando, uma de cada vez, as informações que são processadas por esses diversos subsistemas, organizando e ordenando tudo numa área de trabalho, ao que ele chama de “Espaço e Trabalho Global”. Esse espaço contém o problema que precisamos resolver no momento, ele é o nosso foco, nossa atenção. Ele realiza buscas na memória de curto prazo para solucionar algum contexto vivido ou antecipando-se a ele.
A teoria dos Esboços Múltiplos também atribui processadores às atividades de percepção, de “inputs”, para Dennett, a consciência está espalhada pelo cérebro e também trabalha de forma serial.
A Máquina Joyceana é a máquina virtual que irá processar em modo serial.
E o que é uma máquina virtual? Nesse momento, minha experiência de 20 anos na área de informática permitiu que eu pudesse compreender isso. Dizemos no ramo de informática que podemos configurar vários computadores dentro de 1 único computador físico, ou seja, compramos 1 computador, porém podemos instalar softwares nele que emulam várias máquinas “de mentira”, que chamamos de virtuais, mas que funcionam perfeitamente bem, como se fossem realmente máquinas físicas distintas. Hoje é uma tecnologia muito comum, empregada até mesmo em pequenos escritórios.
A Máquina Joyceana é a explicação para a consciência, segundo Dennett. Só que a configuração é inversa ao que expus acima. A consciência seria um software rodando numa máquina virtual serial, a partir de diversos outros processadores que funcionam de modo paralelo.
| Minha idéia é que a máquina Joyceana é uma arquitetura serial simulada em uma máquina paralela. Nossos cérebros são profundamente paralelos. É criado dentro de nós um tipo de computador serial, o qual pode de fato pensar apenas em uma coisa de cada vez e usa muitos de seus recursos criando essa máquina joyceana, que é uma corrente de consciência não tão ampla e contínua. Talvez o melhor jeito de entender a máquina joyceana é que é fácil de programar um laptop, uma máquina em série, porque você pensa, “primeiro ela faz isso, depois aquilo, e então deve fazer isso e aquilo”, e você está pensando em passos, um de cada vez, acontecendo em uma seqüência. Por outro lado, é muito, muito difícil de programar uma máquina paralela, porque tudo acontece ao mesmo tempo em muitos canais, e não sabemos como pensar deste modo. Quando percebemos que não sabemos como pensar paralelamente e que, introspectivamente, temos a percepção de uma corrente de conteúdo, podemos ver que nosso modo de pensar normal humano é em série. A máquina joy ceana é essa mente de funcionamento serial criada em um cérebro de funcionamento paralelo.[18] |
Por fim temos a teoria de Hameroff e Penrose: ORCH-OR.
Sir Penrose dispensa apresentações, é somente uma das maiores mentes viva do nosso século. Parceiro de Stephen Hawking no teorema da singularidade com incontáveis e invejáveis prêmios acadêmicos. Apenas Gênio.
Hameroff, anestesiologista, professor da Universidade do Arizona, conhecido por seus estudos sobre consciência. Em conjunto com Sir Penrose formularam uma teoria da mente super complexa com base na física quântica.
Eles tentam explicar como os subsistemas paralelos do cérebro se comunicam. Concluem que somente um superprocessamento, no modo quântico, produziria consciência.
Por meio de suas observações e experiências como médico, Hameroff argumenta que a integração das atividades cerebrais (binding) é devida ao fenômeno quântico do condensado de Bose-Einstein amplificado, e Penrose desenvolve uma solução para o problema da medida, em termos de redução objetiva do vetor de estado quântico (objetive reduction, OR). Complicado? Então falarei disso no próximo capítulo.
Falei um pouco sobre física quântica, também, nos capítulos anteriores, porque tal física abriu novas possibilidades de discussão sobre o universo, que abrange também a consciência.
Mas, em detalhes sobre como os subsistemas cerebrais formam a nossa consciência, de fato, ainda não está esclarecido. E talvez nunca venha a ser. Assim como um sistema operacional de uma máquina virtual ignora o sistema que roda na sua infraestrutura - a estrutura que provê o “host” -, talvez não sejamos capazes de entender como funciona os subsistemas ou o integrador, ou comando central, ou o centro do planejamento e do “Self”. Comparar o funcionamento do nosso “Self” com os computadores eletrônicos talvez seja um erro, e esteja nos levando à ilusão, porque a linguagem que utilizamos para descrever um hardware pode ter limites de entendimento, assim como Ludwig Wittgenstein dizia que os limites da nossa linguagem são os limites do nosso mundo. Ou Brian Green em sua entrevista à revista Epoca: “Talvez a matemática seja uma construção humana. Neste caso, eu me pergunto se... [pausa de 5 segundos] as ideias que estamos tendo são mais um produto da nossa neurofisiologia do que o reflexo da realidade exterior. É uma possibilidade. É possível que no futuro encontremos alienígenas, mostremos a matemática, e eles nos digam: "no começo tentamos isso também, mas é limitado, está aqui o jeito correto".
Talvez nunca venha a ser, porque estamos fazendo uma engenharia reversa com nosso cérebro, e não temos as ferramentas para desmontá-lo sem quebrá-lo, não conseguimos parar os sistemas, ou subsistemas, e religá-los para pôr à prova. Assim como um Criptex, na história do Dan Brown, “O Código da Vinci”, que o personagem Robert Langdon precisa descobrir a senha para abri-lo, pois forçadamente provoca a destruição instantânea do seu conteúdo.
Mas talvez estejamos simplesmente fazendo as perguntas erradas, e por tabela, procurando a origem da consciência no lugar errado. E novamente citando Brian Greene, às vezes são as perguntas certas que nos levam às respostas.
E se em vez de somente fazermos engenharia reversa para explicar a consciência, fizéssemos perguntas que envolvessem o design do universo? Perguntas do tipo, se esse universo tivesse uma intencionalidade, qual seria o papel da nossa consciência nesse design? Talvez encontrássemos uma segunda certeza, já que a primeira é “penso, logo existo”, a segunda poderia ser: se “existo é porque alguma razão me precede”.
[1] Mithen, Steven J.. In: Steven J.. The singing neanderthals : the origins of music, language, mind, and body. Cambridge, Harvard University Press, 2006. OCLC 62090869ISBN 978-0-674-02192-1.
[2] TED Talks: Bravo Mundo Neural. Suzana Herculano-Houzel (Disponível em: < https://youtu.be/1HX5whMauMw> Acesso em 14 Outubro 2015).
[3] Mindblindness: An Essay on Autism and Theory of Mind. MIT Press/Bradford Books. 1995. ISBN 978-0-262-02384-9.
[4] Teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais - crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc - a si próprio e aos outros, e de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. Déficits nessa função acontecem em pessoas com autismo, esquizofrenia, déficit de atenção, bem como consequência de intoxicação cerebral decorrente de abuso de álcool. Embora existam abordagens filosóficas aos questionamentos levantados por essas discussões, a Teoria da Mente como tal é distinta da Filosofia da Mente. (Fonte: Wikipedia. Verbete: Teoria da Mente. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_mente. Acesso em 15 outubro 2015)
[5] DAMÁSIO, Antonio. O Erro de Descartes, Pan Macmillan, Abril de 1995, (ISBN 0-380-72647-5).
[6] Daniel Dennett Disponível em: < https://youtu.be/FxvuT00bxvI> Acesso em 14 Outubro 2015.
[7] Médico neurologista, neurocientista português que trabalha no estudo do cérebro e das emoções humanas. É professor de Neurociência na University of Southern California.
[8] Filósofo norte-americano, professor de filosofia na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
[10] BALDWIN, M. A New Factor in Evolution. The American Naturalist, Vol.30, No.355, p.536–553, 1896.
[11] A análise do DNA de membros de três gerações de uma família que exibia uma herança autossômica dominante de uma desordem grave de fala e linguagem, junto com a análise do DNA de um único indivíduo com sinais semelhantes, mas sem história familiar, produziram a evidência chave para a identificação pioneira de um gene associado à linguagem.
Os pesquisadores demonstraram a existência de uma mutação de base única no gene Foxp2 em membros afetados da família, nas três gerações. A mutação incide na região do domínio ligador de DNA. O indivíduo com a desordem semelhante, mas sem história familiar, mostrou uma translocação que rompia a função do mesmo gene.
Os autores sugeriram, assim, que uma produção insuficiente da proteína FOXP2 num estágio chave da embriogênese pode levar a alterações das estruturas neurais importantes para a fala e a linguagem. Este trabalho apoiou-se em esforços anteriores da mesma equipe para mapear o locus do gene Foxp2 em uma pequena região do cromossomo 7. (Fonte: Fisher, S.E. et al., "Localization of a Gene Implicated in a Severe Speech and Language Disorder," Nature Genetics 18(2): 168-170 (1998))
[12] LEITE, Samuel de Castro Bellini. Um contraste entre as teorias cognitivas da consciência de Baars e Dennett: o espaço de trabalho global seria um teatro cartesiano?. 2013. 124 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2013. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/91755>.
[13] DENNETT, D.C. Consciousness explained. New York: Black Bay Books, 1991.
[14] O GLOBO ONLINE, A mulher que encolheu o cérebro: Suzana Herculano. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/a-mulher-que-encolheu-cerebro-humano-8482825http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/a-mulher-que-encolheu-cerebro-humano-8482825>. Acesso em: 16 Outubro 2015.
[15] A Web semântica é uma extensão da World Wide Web atual, que permitirá aos computadores e humanos trabalharem em cooperação. A Web semântica interliga significados de palavras e, neste âmbito, tem como finalidade conseguir atribuir um significado (sentido) aos conteúdos publicados na Internet de modo que seja perceptível tanto pelo humano como pelo computador.
[16] LEITE (2013).
[17] LEITE (2013), apud SETH, A.; BAARS, B.; EDELMAN, D. Criteria for consciousness in humans and other mammals. Consciousness and Cognition, v.14, p.119–139, 2005. e PEPPERBERG, I.; LYNN, S. Possible Levels of Animal Consciousness with Reference to Grey Parrots (Psittacus erithacus). American Zoologist, v.40, p.893-901, 2000.
[18] Revista Filosofica. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/54/artigo206389-1.asp> Acesso em: 18 Outubro 2015.
[2] TED Talks: Bravo Mundo Neural. Suzana Herculano-Houzel (Disponível em: < https://youtu.be/1HX5whMauMw> Acesso em 14 Outubro 2015).
[3] Mindblindness: An Essay on Autism and Theory of Mind. MIT Press/Bradford Books. 1995. ISBN 978-0-262-02384-9.
[4] Teoria da mente é a habilidade de atribuir estados mentais - crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc - a si próprio e aos outros, e de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. Déficits nessa função acontecem em pessoas com autismo, esquizofrenia, déficit de atenção, bem como consequência de intoxicação cerebral decorrente de abuso de álcool. Embora existam abordagens filosóficas aos questionamentos levantados por essas discussões, a Teoria da Mente como tal é distinta da Filosofia da Mente. (Fonte: Wikipedia. Verbete: Teoria da Mente. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_mente. Acesso em 15 outubro 2015)
[5] DAMÁSIO, Antonio. O Erro de Descartes, Pan Macmillan, Abril de 1995, (ISBN 0-380-72647-5).
[6] Daniel Dennett Disponível em: < https://youtu.be/FxvuT00bxvI> Acesso em 14 Outubro 2015.
[7] Médico neurologista, neurocientista português que trabalha no estudo do cérebro e das emoções humanas. É professor de Neurociência na University of Southern California.
[8] Filósofo norte-americano, professor de filosofia na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
[10] BALDWIN, M. A New Factor in Evolution. The American Naturalist, Vol.30, No.355, p.536–553, 1896.
[11] A análise do DNA de membros de três gerações de uma família que exibia uma herança autossômica dominante de uma desordem grave de fala e linguagem, junto com a análise do DNA de um único indivíduo com sinais semelhantes, mas sem história familiar, produziram a evidência chave para a identificação pioneira de um gene associado à linguagem.
Os pesquisadores demonstraram a existência de uma mutação de base única no gene Foxp2 em membros afetados da família, nas três gerações. A mutação incide na região do domínio ligador de DNA. O indivíduo com a desordem semelhante, mas sem história familiar, mostrou uma translocação que rompia a função do mesmo gene.
Os autores sugeriram, assim, que uma produção insuficiente da proteína FOXP2 num estágio chave da embriogênese pode levar a alterações das estruturas neurais importantes para a fala e a linguagem. Este trabalho apoiou-se em esforços anteriores da mesma equipe para mapear o locus do gene Foxp2 em uma pequena região do cromossomo 7. (Fonte: Fisher, S.E. et al., "Localization of a Gene Implicated in a Severe Speech and Language Disorder," Nature Genetics 18(2): 168-170 (1998))
[12] LEITE, Samuel de Castro Bellini. Um contraste entre as teorias cognitivas da consciência de Baars e Dennett: o espaço de trabalho global seria um teatro cartesiano?. 2013. 124 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, 2013. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/91755>.
[13] DENNETT, D.C. Consciousness explained. New York: Black Bay Books, 1991.
[14] O GLOBO ONLINE, A mulher que encolheu o cérebro: Suzana Herculano. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/a-mulher-que-encolheu-cerebro-humano-8482825http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/a-mulher-que-encolheu-cerebro-humano-8482825>. Acesso em: 16 Outubro 2015.
[15] A Web semântica é uma extensão da World Wide Web atual, que permitirá aos computadores e humanos trabalharem em cooperação. A Web semântica interliga significados de palavras e, neste âmbito, tem como finalidade conseguir atribuir um significado (sentido) aos conteúdos publicados na Internet de modo que seja perceptível tanto pelo humano como pelo computador.
[16] LEITE (2013).
[17] LEITE (2013), apud SETH, A.; BAARS, B.; EDELMAN, D. Criteria for consciousness in humans and other mammals. Consciousness and Cognition, v.14, p.119–139, 2005. e PEPPERBERG, I.; LYNN, S. Possible Levels of Animal Consciousness with Reference to Grey Parrots (Psittacus erithacus). American Zoologist, v.40, p.893-901, 2000.
[18] Revista Filosofica. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/54/artigo206389-1.asp> Acesso em: 18 Outubro 2015.